sexta-feira, 4 de junho de 2010

Introdução

Dois anos. Caminhando para três. Esse é o tempo que "Inferno dos Maremotos Pequenos" ficou no ar em outro site. Dois anos atrás eu precisava de alguma forma dizer coisas indizíveis. Eu precisava de alguma forma aceitar alguns problemas. Para isso, a única saída encontrada foi a escrita.

Sempre aceitei a escrita como libertação e pratiquei com certa dedicação. A transição de 2006/2007 foi difícil e naquele momento diversos escritos nasceram. Escritos que lidavam principalmente com situações íntimas. Escritos que traziam à tona problemas que ignorei. Ao dar espaço para essas palavras, dei voz aos meus próprios medos. Solidão, impaciência, dor, incompreensão. Medos que deram vida aos textos e que, de certa forma, transformaram-se em poemas. Esses poemas não só são exemplos de confissões, mas também da necessidade de libertação.

Dizer que me arrependo é recusar a beleza da complexidade que cada um evoca. Hoje eles funcionam como um lembrete. Ontem eram o meu sangue. As situações ainda são vivas na memória e, se compreendo tudo de uma nova ótica, grande parte vêm da leitura desses poemas.
Hoje abro mão daquilo que eles significam. Abro mão de vê-los como um limbo. Hoje quero vê-los como realmente são: memórias.

Homogêneos

Homogêneos

Eu preciso de uma mente mais aberta
Você sempre diz que a minha vida está de ponta-cabeça
e eu não reclamo
Não somos homogêneos, somos?
Estou frustrado, estou cansado
e sem paciência para ouvir alguém
Você está ultrapassando meu limite,
a minha divisa de intimidade
Sua curiosidade é incompreensível
Eu não me adapto tão fácil,
gosto de não mudar e cuspir indiferença

Eu preciso de mais espaço
e menos propostas para topar
Eu não pulo dentro e caio morto
Gosto d’estar vivo e, às vezes, sangro
Você não curte isso?
Você se preocupa com sua rotina
com sua mãe – sua grana – seus débitos
Seu tempo é curto demais para ser vivido?
Não dá p’ra arcar com isso
Você, agora, vai dar p’ra trás?

Eu quero mais clareza
Um manual de instruções e de boas maneiras
cairia bem
Sim, eu não sei me portar à mesa
Não, eu sei bem minha auto-advertência

Estamos nós falando sobre a mesma coisa?
Você pergunta s’eu não calo a boca

Eu peço demais?
Só quero menos ambivalência e menos problemas
Ambigüidade me faz regredir
E você não me põe p’ra frente
Quero uma tempestade com calmaria após
Estou mais calmo ou menos sereno?
Se você não se importar
pare de tentar me analisar

Eu preciso de menos estresse
Você fecha a porta ao sair?

Bilateralidade

Bilateralidade

Não vi os sinais novamente
Não fiz algo para evitar
Não movi uma palha na esperança
de você mover antes ou mais rápido
Não me deixei compreender os motivos
Mesmo eles estando ao meu alcance
Por mais uma vez eu quis crer
que não era só uma coincidência

Não aprendi qu’esperar não leva a lugar algum
Quis desenhar bilateralidade onde eu sim–
plesmente não estaria jamais
Abri espaço para você e fugiste assim mesmo
Não reparei se o espaço era amplo
Meu interesse não era tão claro
que você apenas não sentiu?

Querer morrer agora seria a coisa mais racional?
Seria você vítima desse crime ou da autoria?
Ficamos íntimos no pessoal?

Não sabia o que seria perfeito ou errado
Não percebi que estava bem como estava,
bastava agradecer pelo o que já tinha
Não sabia que ser romântico me faria mais
compatível com você
Fosse mais uma questão de interpretação que
de simples compreensão dos fatos

Não fui bem claro com as intenções
Não sei se deu errado,
pois não houve certo em momento algum
Não soa melhor avançar esse estágio
e pular para outra fase?

Quem seria a vítima?

Seus Sonetos I

Seus Sonetos I

Espero que passem os bons dias
Que o nosso vão vivido te culmine
Repetir-se-á sob suas demolidas dálias
Apodrecerão os jardins que não me são bens

O mal impregnará na raiz
Correrá pelo seu sangue
— pelas veias que tanto aquiesci
de estar ao meu alcance

Não bastam boas intenções
Se você apenas crê nas secreções
Eu não posso mais salvar almas

Espero um bom dia na sua base
— Atravesse seus problemas nesta fase
E talvez consigamos um objeto lá mais tarde...

Mar Dentro

Mar Dentro
Sobre o amanhecer de Novembro

Olhando a valentia
do mar na sua luta com as pedras
Meu dedo em riste
para o nascente solidário sol
e meu rosto triste encorajava
o questionamento de tudo
― e eu sabia da volúpia ao seu redor
Também descobriria a efemeridade ―
E hoje durmo com o sentido
da doce conotação de dar o coração p’ra
alguém ― e tê-lo empalhado ―
Ainda sinto os pensamentos
efervescendo naquele nascer do sol.

Fugidio

Fugidio

Vejo uma pequena redoma
domada
líquido preso no seu formato
como eu no seu mundo

Alvura faz parte do
contexto para essa análise

Vejo escuridão dentro
rasgando
Frio caça a sua caça
e suas luvas não esquentam mais

Estaca presa
Na corpulência de minh’alma
Não sinto mais prazer
Sinto a corrente

que arrasta
ou eu – ou você
para a vasta
imensidão

da dúvida e do rancor
do silêncio – do terror

fuja, por favor
chances
você ainda as tem!

não prendo-te e não
hás de prender-me
Estou te atando
Como fogo destrói a folha seca
Uma vez trocamos de lugar

Insidiosos
seremos sempre
e eu ainda vejo uma redoma
que guarda:
dois.

Do Tipo

Do Tipo

Você é do tipo real?
Você me prende nas suas pernas?
Eu entrarei em transe só ao chegar perto?
Tocar-te faz parte?
Par te sugere?

Seus olhos me induziam
Instruído ser, corrompido humano
Quanto mais verdade sei
Menos creio na existência
Sua desfalência mórbida infringe egos

Você é do tipo talentosa?
Você acaricia o tempo
com seu peculiar toque?
Você é do tipo dele ou meu?
Contrapartidas em comum

Você é do tipo de pessoa
que gosta do contato?
Do tipo que destrói vidas
só com um simples mover?

Do tipo móvel ou estável?
Estagnador?